A editora IOLE e a Editora do Departamento de Turismo (EDTur) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) costuma divulgar a produção de trabalhos intelectuais que tenham qualidade e relevância social e foi o caso da recente publicação: O livro Territórios do Turismo: perspectivas de passados, presentes e futuros possíveis mostra as definições, conceito e o breve histórico do turismo no mundo e a WeedTour foi citado no livro com 328 páginas que busca mostrar como é o turismo contemporâneo na prática.
O livro cita ainda que na nossa história, nunca houve uma sociedade que não consumisse drogas, portanto, seria a hora de superar o proibicionismo e os preconceitos e buscar novas soluções e abordagens para a questão. Nesse processo, as reflexões, os estudos e o desenvolvimento do turismo de drogas poderiam ser vistos como alternativas relevantes (e que educam a sociedade).
Os três autores, Amanda Danielli Costa, Marcela do Nascimento Padilha, Thiago ferreira, foram muito felizes ao trazerem contribuições para o avanço da reflexão e da práxis no campo epistemológico do turismo e para a consolidação de uma comunidade comprometida com a pluralidade do pensamento e também mostraram a importância de pensar o turismo como educação ao longo do tempo.
Nós separamos abaixo um pedacinho do capítulo sobre as drogas, mas caso você tenha se interessado mais, mas você pode ler tudinho aqui: TERRITÓRIOS DO TURISMO: PERSPECTIVAS DE PASSADOS, PRESENTES E FUTUROS POSSÍVEIS..
As mudanças de postura em relação à política usual de guerra às drogas permitiram um aumento na demanda por parte dos turistas de drogas, nos números de destinos existentes e na quantidade de atrações, serviços e infraestruturas específicas necessárias. Sendo assim, novas possibilidades surgiram no mercado, o que pôde ser percebido a partir de reportagens de sites, blogs e revistas especializadas em turismo.
Outra evidência concreta da existência do turismo de drogas seria o surgimento de sites especializados em buscas por hospedagens cannabis friendly…. Notamos também a realização de inúmeras feiras, eventos científicos e marchas pela legalização associadas à maconha em diversas partes do mundo. O evento mais antigo e conhecido seria a Cannabis Cup, a qual foi iniciada em 1988, na cidade de Amsterdam, na Holanda e que, atualmente, passou a contar também com edições oficiais em alguns estados norte americanos e em países como a Jamaica e Espanha (locais que regulamentaram os usos recreativo e/ ou medicinal). Destacamos também a Expoweed, no Chile, a Expocannabis, no Uruguai e a Pot in Rio, no Rio de Janeiro – Brasil.
Diversas agências de turismo já oferecem pacotes de viagens incluindo passagens, hospedagem (no geral, cannabis friendly), acesso mais fácil a maconha durante a viagem, inscrições nos eventos canábicos e roteiros temáticos para áreas de cultivo e dispensários. Como apenas alguns exemplos, poderíamos citar: a WeedTour, no Brasil.
Portanto, tornou-se cada vez mais comum a utilização de termos como turismo de drogas, turismo canábico, cannabis friendly, etc., ilustrando a apropriação dessa temática pelo senso comum e pelos atores envolvidos direta e indiretamente na realização prática desse segmento turístico.
Uma relevante questão, que poderia ser levantada, diz respeito a possibilidade de surgimento e existência desses destinos de turismo de drogas em um contexto, no qual o consumo e o comércio de muitas dessas substâncias continuam sendo classificados como atitudes criminosas na maior parte do mundo.
Poderíamos explicar essa situação abordando a diferença entre leis e sistemas.
Embora as leis sejam registradas, escritas em papel, quando aplicadas, os resultados esperados nem sempre são obtidos. Nesse sentido, os sistemas poderiam ser interpretados como as formas com as quais as sociedades lidam com as questões que as leis abrangem; por exemplo, podemos encontrar lugares onde, apesar de as leis serem restritivas, os sistemas desenvolvidos são mais tolerantes com relação ao uso de drogas ilícitas; portanto, mesmo com proibições.
DEFINIÇÕES, CONCEITOS, BREVE HISTÓRICO E EVIDÊNCIAS DO TURISMO DE DROGAS
Buscando evitar ruídos na comunicação, destacamos que a definição de drogas adotada nesse estudo esteve associada às drogas psicoativas, ou seja, aquelas capazes de mudar o comportamento e / ou a percepção de usuários, independentemente do estatuto jurídico destas substâncias (ARAUJO, 2014).
No que concerne às diferentes classificações de drogas existentes, notamos que estas foram desenvolvidas com base nas origens das substâncias (naturais, sintéticas e semissintéticas); nos efeitos gerados nos usuários (estimulantes, depressoras e perturbadoras); nos seus status legais (lícitas, ilícitas e controladas); nos tipos de uso (medicinal, recreativo e religioso), bem como no grau de danos causados (leves ou pesadas) (ARAUJO, 2014).
De acordo com Hoffmann (2014), o turismo de drogas (ou narco turismo) foi iniciado na segunda metade da década de 1960 pelos norte-americanos e europeus pertencentes aos movimentos de contracultura, mais especificamente o movimento Hippie. Ao longo dos anos, passou por muitas mudanças, as quais estiveram relacionadas à expansão do fornecimento de drogas; à adaptação de questões relacionadas com as necessidades desses turistas e; ao
surgimento de novos destinos, mas, apesar dessas transformações, a proposta inicial teria sido sempre mantida. Para esse autor, o termo turismo de drogas estaria associado às viagens com o objetivo de adquirir e consumir legalmente substâncias psicoativas, ou às viagens nas quais o objetivo principal seria o uso de drogas.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, Valdez e Sifaneck (1997) definiram turismo de drogas como “o fenômeno pelo qual as pessoas são atraídas para um local específico devido à acessibilidade de drogas lícitas ou ilícitas e e ilícitas) para uso pessoal; análises sobre as possíveis relações entre os segmentos turísticos da OMT e as diversas modalidades de turismo de drogas; levantamento de estudos de caso em escala global, regional e local; interfaces entre o turismo de saúde e a cannabis medicinal, dentre outras possibilidades (PEREIRA, 2020).
O Turismo Canábico durante a pandemia também não passou batido…
Com a pandemia de Covid-19, iniciada em 2020, de maneira similar ao que ocorreu com outros segmentos turísticos, o turismo de drogas também sofreu consequências negativas severas, onde as restrições para os deslocamentos e a necessidade de distanciamento social levaram à interrupção dos serviços oferecidos. No caso específico do turismo canábico, em diversos momentos os lounges para consumo, as visitas às áreas de cultivo, os workshops e conferências sobre maconha, os tours em ônibus canábicos etc. foram fechados no intuito de reduzir os riscos de contaminação. O compartilhamento de cigarros de maconha, prática comum entre os usuários (a qual contribui para a socialização desses turistas) também passou a ser evitado, influenciando diretamente no comportamento dos turistas canábicos. De qualquer forma, com a vacinação em massa e com o desenvolvimento de estratégias de adaptação para o turismo no mundo pós-covid, espera-se que o turismo de drogas, mais especificamente o turismo da maconha, volte a apresentar um crescimento significativo (similar ao verificado no momento anterior à pandemia).
Quer saber mais? Leia o livro completo aqui: TERRITÓRIOS DO TURISMO: PERSPECTIVAS DE PASSADOS, PRESENTES E FUTUROS POSSÍVEIS..